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Um breve histórico sobre o uso medicinal da Cannabis sativa pela humanidade

 A História da Cannabis Medicinal: Da Antiguidade aos Dias de Hoje


Você sabia que a Cannabis acompanha a humanidade há mais de 12 mil anos? Muito antes das polêmicas modernas, ela já era usada como alimento, para produzir tecidos, como remédio natural e até em práticas espirituais.

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Sabedoria ancestral:


Na China, no Egito, na Índia e no Tibete, há registros do uso da planta no tratamento de

dores, inflamações, crises convulsivas e problemas respiratórios.

Na Índia, a Cannabis era considerada uma das cinco plantas sagradas, presente do deus Shiva para ajudar a humanidade. No Tibete, monges a utilizavam para facilitar a meditação.


Medicina antiga...


No século I, o médico grego Dioscórides incluiu a Cannabis em seu famoso livro De Matéria Médica, já destacando seus efeitos contra dores e inflamações. No século XI, o médico Avicena também descreveu suas propriedades: diurética, analgésica, calmante e anti-inflamatória.


Um dos primeiros relatos clínicos documentados é de 1464, quando o médico iraquiano Ibn al-Badri registrou que o filho do camareiro do Califa deixou de ter convulsões após tratamento com Cannabis.


Na África, era usada para tratar picadas de cobra, malária e até dores do parto. E foram os africanos, principalmente angolanos, que trouxeram a planta para as Américas, onde ajudava a aliviar os sofrimentos físicos e emocionais da escravidão.


Do Oriente para a Europa:


No século XIX, o médico William O’Shaughnessy popularizou o uso da Cannabis medicinal na Europa após seus estudos na Índia. A planta ganhou espaço nas farmácias, sendo indicada até mesmo para tratar dependência de ópio.

Na França, o médico Jacques Moreau ficou tão intrigado com os efeitos da planta que resolveu experimentar o haxixe. Sua curiosidade deu origem ao famoso “Clube do Haxixe”, frequentado por intelectuais como Victor Hugo, Alexandre Dumas e Charles Baudelaire, que se reuniam para discutir (e sentir) seus efeitos curiosos.


Das farmácias para a proibição:


No início do século XX, era fácil encontrar remédios à base de Cannabis em farmácias — inclusive no Brasil. Grandes laboratórios, como Merck e Eli Lilly, produziam xaropes, extratos e até cigarros medicinais.

Mas, a partir da década de 1920, começou uma onda de proibições motivada por fatores políticos, raciais e econômicos, principalmente nos EUA. Em 1937, a Lei Marijuana Tax Act marcou o auge dessa repressão.

No Brasil, vale lembrar: já em 1830 havia registros de proibição do uso da maconha no Rio de Janeiro (a famosa Lei do Pito do Pango).


A redescoberta científica:


Apesar da proibição, a ciência seguiu seu caminho. Nos anos 1960, o pesquisador israelense Raphael Mechoulam isolou os compostos THC e CBD, e mais tarde descobriu a *anandamida, ajudando a revelar o **sistema endocanabinoide*, presente em todos nós.

No Brasil, o professor Elisaldo Carlini foi pioneiro ao realizar, em 1981, o primeiro estudo clínico sobre o uso do canabidiol em pacientes com epilepsia.


O cenário atual no Brasil e no mundo:


Hoje, a Cannabis medicinal está de volta às farmacopeias, inclusive na Farmacopeia Brasileira, onde constou em 1929 (1ª edição) e voltou a ser incluída em 2024 (7ª edição). A Anvisa já possui resoluções que permitem a produção de medicamentos, embora os custos e a falta de uma regulamentação definitiva ainda sejam desafios para ampliar o acesso.


No mundo, cada vez mais países reconhecem a planta como uma ferramenta terapêutica valiosa, apoiados por um crescente número de pesquisas científicas.


+*Curiosidade final:* durante a Segunda Guerra Mundial, o cânhamo foi brevemente liberado para uso industrial nos EUA, mostrando como a Cannabis sempre esteve presente em diferentes momentos da nossa história — como fibra, alimento e medicina.



E você, já conhecia essa trajetória tão rica da Cannabis?



A ABFV vem expressar que a Farmácia Viva é uma importante via de acesso dos usuários do SUS ao tratamento com os produtos de Cannabis.

O acesso a esses medicamentos ainda não alcança a necessidade dos usuários, para o que nos colocamos a disposição, como entidade e defensores do SUS.

Nesse sentido a ABFV criou um Grupo de Trabalho, constituído de profissionais de alta expertise no conhecimento da planta e seus derivados, para contribuir com propostas efetivas para o adequado fornecimento da Cannabis sativa às Farmácias Vivas e qualificando assim, cadeia produtiva dos seus derivados.

Agradecemos a disponibilidade de todos!

 


Referências

 

CARLINI, Elisaldo Araújo. A história da maconha no Brasil. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 55, n. 4, p. 314-317, 2007.

 CROCQ, Marc-Antoine. History of cannabis and the endocannabinoid system. Dialogues in Clinical Neuroscience, v. 22, n. 3, p. 223-228, 2020.

 PIERRO NETO, Pedro Antonio; PIERRO, Luiz Marcelo Chiarotto; FERNANDES, Sergio Tadeu. Cannabis: 12.000 anos de experiências e preconceitos. BrJP, v. 6, supl. 2, p. S80-S84, 2023.

 
 
 

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